Diz-se na Bahia que existem dezesseis Oxalás:
Obatalá
Odudua
Orixá Okin
Orixá Lulu
Orixá Ko (Ocô)
Oluiá Babá Roko (Iroco)
Oxalufã
Babá Epe
Babá Lejugbe
Oxaguiã
Orixá Akanjapriku
Orixá Ifuru
Orixá Kere
Babá Igbô
Ajaguna
Olissassa
Babá Lejugbe é sem dúvida Òrìşà Ijùgbẹ na África, onde é igualmente chamado
Òrìşà Ẹtẹko, um companheiro de Ọbàtálá. Orixá Kerê é na África, Òrìşá
Àkirè ou Ìkirè, outro companheiro de Obatalá. Ajaguna é um dos nomes de Òrìşa
Ogiyán, que na Bahia é também chamado de Babá Elemessô; Babá Igbô é o próprio
Òrìşàálá. Olissassa no Brasil é a versão daomeana (jeje) de Lisa. Quanto a
Odùdùa, figura na lista, sem dúvida, por causa de sua presença nos mitos de
criação do mundo. Os mais conhecidos são Oxalufã, o Oxalá velho, e Oxaguiã, o
jovem.
O imenso respeito que o Grande Orixá inspira às
pessoas do candomblé revela-se plenamente quando chega o momento da dança de
Oxalufã, durante o xirê dos orixás. Com essa dança, fecha-se geralmente a
noite, e os outros orixás presentes vão cercá-lo e sustentá-lo, levantando a
bainha de sua roupa para evitar que ele a pise e venha tropeçar.
O ritmo para Oxalá é o batá, que pode ser tocado em
dois andamentos: o batá rápido e o batá lento. O batá lento é tocado para todos
os orixás cuja dança denota cansaço e lentidão, como a dança de Oxalufã, o
velho deus arcado, senhor da criação que, totalmente vestido de branco,
"arrasta-se" pelo barracão, apoiado em seu paxorô (cajado). O batá
rápido é tocado para Oxaguiã, entre outros. Este Oxalá moço dança guerreando,
todo de branco, carregando uma "mão de pilão" e uma espada, símbolo
da justiça deste deus. A saudação a Oxalá é "Epa Babá!" (do iorubá
Èpa Bàbá!, "Salve, Pai!").
O arquétipo de personalidade dos devotos de Oxalá é
aquele das pessoas calmas e dignas de confiança; das pessoas respeitáveis e
reservadas, dotadas de força de vontade inquebrantável que nada pode
influenciar. Em nenhuma circunstancia modificam seus planos e seus projetos,
mesmo a despeito das opiniões contrárias, racionais, que as alertam para as
possíveis consequências desagradáveis de seus atos. Tais pessoas, no entanto,
sabem aceitar, sem reclamar, os resultados amargos daí decorrentes.
Mitos de Oxalá
Oxalá foi encarregado por Olodumaré de criar o mundo
com o poder de sugerir (àbà) e o de realizar (àşẹ), razão pela qual é saudado com o
título de Aláàbáláàşẹ. Para cumprir sua
missão, antes da partida, Olodumaré entregou-lhe o “saco da criação”. Oxalá
pôs-se a caminho apoiado num grande cajado de estanho, seu ọpá oşorò ou paxorô. No momento de
ultrapassar a porta do Além, encontrou Exu, que entre as suas múltiplas
obrigações, tinha a de fiscalizar as comunicações entre os dois mundos. Exu,
descontente com a recusa do Grande Orixá em fazer as oferendas prescritas,
vingou-me fazendo-o sentir uma sede intensa. Oxalá, para matar sua sede, furou,
com o paxorô, a casca do tronco de um dendezeiro. Um líquido refrescante dele
escorreu: era o vinho de palma. Ele bebeu-o ávida e abundantemente. Ficou
bêbado, não sabia, mas onde estava e caiu adormecido. Veio então Ọlọfin-Odùduà, criado por Olodumaré depois
de Oxalá e seu maior rival. Vendo o Grande Orixá adormecido, roubou-lhe “o saco
da criação”, dirigiu-se à presença de Olodumaré para mostrar-lhe seu achado e
lhe contar em que estado se encontrava Oxalá. Olodumaré exclamou: “Se ele esta
neste estado, vá você, Odùduà! Vá criar o mundo!” Odùduà saiu assim do Além e
se encontrou diante de uma extensão ilimitada de água. Deixou cair à substância
marrom contida no “saco da criação”. Era terra. Formou-se então um montículo
que ultrapassou a superfície das águas. Aí, ele colocou uma galinha cujos pés
tinham cinco garras. Esta começou a arranhar e a espalhar a terra sobre a superfície
das águas. Onde ciscava, cobria as águas, e a terra ia se alargando cada vez
mais, o que o ioruba se diz ilè nfẹ, expressão que deu origem ao nome da
cidade de Ilê-Ifé. Odùduà aí se estabeleceu, seguido pelos outros orixás, e
tornou-se assim o rei da terra. Quando Oxalá acordou não mais encontrou ao seu
lado o “saco da criação”. Despeitado, voltou a Olodumaré. Este, com castigo
pela sua embriaguez, proibiu ao Grande Orixá, assim como aos outros de sua
família, os orixás funfun, ou “orixás brancos”, beber vinho de palma e mesmo de
usar azeite-de-dendê. Confiou-lhe, entretanto, como consolo, a tarefa de
modelar no barro o corpo dos seres humanos, aos quais ele, Olodumaré,
insuflaria a vida. Por essa razão, Oxalá é também chamado de Alámọrere, o “proprietário da boa argila”.
Pôs-se a modelar o corpo dos homens, mas não levava muito a sério a proibição
de beber vinho de palma e, nos dias em que se excedia, os homens saíam de suas
mãos contrafeitos, deformados, capengas, corcundas. Alguns, retirados do forno
antes da hora, saíam mal cozidos e suas cores tornavam-se tristemente pálidas:
eram albinos. Todas as pessoas que entravam nessas tristes categorias são-lhe
consagradas e tornam-se adoradoras de Orixalá. Mais tarde, quando Oxalá e
Odùduà reencontraram-se, eles discutiram e se bateram com furor.
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